Scene 0010 - Igor e Gabriel

— Os possíveis pontos de incêndio são aqueles, comandante. — Gabriel aponta para o mapa — E estes aqui são postos de gasolina, que podem maximizar o fogo caso precise. Sobre a bomba, podemos verificar a possibilidade de colocá-la hoje mesmo, quando eu for falar com Damien. Quanto tempo, após a explosão, demorariam para mandar reforços, Joaquín?

— Não sei ao certo — diz Joaquín — mas como está previsto um ataque terrorista a Toulouse...

— Pelo nosso cronograma — Javier interrompe — já deveríamos estar dentro da cidade.

— Eu sei Javier, mas, não sei se vale a pena atacarmos agora. Quero, dizer, temos que escolher quem vai realizar o ataque terrorista, depois, nos mobilizar até o local para o assalto do comboio militar, e finalmente, seguir com o cavalo de troia para dentro da cidade. Gabriel, por favor, faça uma média de tempo do atentado até a desova dos cabeças de pá.

— O coboio do exército seria o ideial, mas, se o atentado ocoresse agora a noite, os militares viriam ainda nessa noite? E se ele ocorrer amanhã ao entardecer ? Precisamos saber quanto tempo demora para eles enviarem suas tropas. Definitivamente precisamos definir o meio de transporte, gostei da idéia clássica, mas ela precisa de recursos que não temos, mas, sempre pode-se "pegar emprestado". Agora precisamos escolher uma forma de transporte, não pode haver margem para falhas, alguém tem alguma idéia?

— Meu senhor, acredito que a distância de Toulouse para bases militares próximas possa ser medida em horas. Três ou quatro, dependendo de onde mandem reforços. Além da distância que as tropas percorreriam, teríamos que calcular o tempo que o governo demoraria para emitir a ordem, e o tempo para que os militares se organizassem. Se forem encaminhar as tropas com urgência, eu chuto que teríamos este tempo mais uma ou duas horas. Seria, então, "T+4", ou "T+5", aproximadamente. — Gabriel utilizava linguagem militar. Estava dizendo que teriam o tempo de quatro ou cinco horas após a explosão. — Nosso problema mesmo será o tempo necessário para dar a volta por Toulouse com esse monte de gente. De nada adiantaria explodir a bomba hoje ou na tarde de amanhã se não estivermos do outro lado para emboscar o comboio.

O mascarado cruza os braços, colocando a mão direita em seu queixo. Uma atitude clara de que estava forçando sua cabeça a ter ideias em um ritmo mais rápido que o normal.

— Hector está certo, se mandarem os reforços de dia, não teremos como emboscá-los. Temos que fazer os eventos serem urgentes o suficiente para que mandem o comboio na mesma madrugada. E mesmo que venham armados, não terão nada pesado como morteiros ou coisa do tipo. É um ataque terrorista, não uma guerra. Pra completar, temos o cronograma. Nosso Serafim não ficará satisfeito se nos atrasarmos, e até onde me lembro, deveríamos Cercar Toulouse entre hoje e amanhã.

O Nosferatu começa a circundar a mesa dos mapas devagar, olhando para os planos. Hidalgo faz o mesmo, mas em sentido contrário, e o corvo no ombro de Gabriel também volta seu olhar para a mesa. Cada um olha para um ponto distinto, alternando entre si as atenções, em perfeita sincronia. Um observador não acostumado poderia pensar que talvez não fossem três criaturas, mas sim três partes de uma única consciência. Talvez... talvez... este pensamento não estivesse tão errado.

Os três "bichos" param e erguem suas cabeças devagar. Os três pares de olhos fitando Igor Durkhein ao mesmo tempo. Gabriel tinha uma ideia.

— Meu senhor, encontrei alternativas. Posso traçar o cronograma completo agora mesmo. — Gabriel começa a escrever em uma folha em branco. — Com sua permissão, comandante, pçeo que solicite uma listagem, um relatório macro-visual de nossos recursos, começando por todos os meios de que dispomos para comunicação entre equipes.

Quando gabriel fala da distância média em horas da base militar, ele tem uma idéia, mas ele prefere entender a dele, que se esforçou tanto, primeiro — Gabriel, você ante terá que nos dar um prelúdio de seu plano, assim nós vamos poder ver como você viu, ou não. Por favor faça-me ver como você três — Igor olha para os três Gabriel, Hidalgo e o Corvo — viram.

O vampiro mascarado faz um sinal de positivo com a cabeça.

— Sim, meu senhor. Dentro de alguns minutos.

Mal termina de falar, Gabriel volta a suas anotações. Parece totalmente imerso em seus planos, porém permanece atento a qualquer palavra que possa ser proferida pelos presentes.

Igor, coloca uma mão sobre os mapas e fica "galopando" com seus dedos, e então comenta — Sabe, também seria interessante nós invadirmos uma base militar próxima a Toulouse e roubássemos seus armamento e transportes, mobilizaríamos nossas tropas por uma entra na cidade, enquanto o outro grupo cerca a cidade em incêndios.

— O atentado servirá para que os militares mandem suas forças para assistir Toulouse. Se esta mesma base estiver sob nosso controle nós vamos poder entrar na cidade como militares. Os esgotos são nossos, ou seja, os militares só nos servirão de reforço bélico e de transporte para nossas tropas de cabeças de pá. Enquanto eles se ocupam com eles nós vamos incendiar a cidade de forma que forçará qualquer membro escondido a sair, uma vez que eles saiam, eles se virão cercados por nossas forças, acuados no centro da cidade, onde terão sua morte final — Igor agora olha para Hector — Quanto a achar os membros, eu acredito que com os incêndios eles não terão alternativa, a não ser fugir. Mas não podemos nos esquecer que Hidalgo só precisa de uma mínima pista para achar qualquer membro — Igor agora olha para Gabriel — Então, meu companheiro, fale do seu plano... Estou ansioso.

Gabriel assente novamente com a cabeça, sem parar de olhar seus mapas:

— Só mais alguns minutos, meu senhor, estou terminando. — Ainda organizando os papéis. — Até agora, conversamos sobre estratégias e sobre o que devemos tomar, mas sugiro que olhemos primeiro para o que já possuímos, senhores.

Na mesa à frente do nosferatu, aquilo que parecem as últimas anotações podem ser vistas.

Igor espera pacientemente, com uma de suas mãos em seu rosto. Sua paciência é tremenda, normalmente, mas o Arauto do Abismo é imprevisível...

OFF: Okay, desculpem pela demora. Mas é que mesmo fazendo com pressa e sem tratar direito, foram 4MB de imagens. Preparem-se, esse post vai ser grande.

ON: Gabriel finalmente levanta sua cabeça, e deixa escapar um comentário baixo:

— Malditas rotatórias...

Deixando tudo de forma "mais ou menos" ordenada, o Bicho do Sabá começa seu discurso.

— Perdão pela demora, meu senhor, mas o esqueleto do plano já está aqui. Vou começar falando sobre nossas rotas: Estamos em Muret, e as principais rodovias de acesso a Toulouse podem ser vistas no mapa. A única capaz de comportar a movimentação de uma tropa é La Pyrénéenne, que segue de forma paralela ao Rio Garona, meu senhor. Pelo caminho, cruzamos com as entradas de Cugnaux e Pins-Justaret.



— Quero alertá-los sobre as proximidades de Cugnaux. Ali, temos um pedágio, o que invariávelmente nos obrigaria a reduzir a velocidade. Aproximadamente 500 metros à frente, temos um viaduto. Se houver uma sentinela neste posto, seremos massacrados. Dessa distância, até um cego poderia nos acertar sem problema algum.





— Não iremos por ali. Existe uma boa rota alternativa, com ruas e avenidas pouco movimentadas por dentro das cidades, e que Wright não poderia vigiar a não ser que tivesse um contigente dez vezes maior do que possui. Esta rota possui pouco menos de 20 km de extensão, mais do que suficiente para ser percorrida em 20 minutos.

Gabriel aponta para vários mapas com um caminho desenhado.



— Partindo daqui: a esquina entre Rue Jean Dabadie e Av. Roger Tissandié...



— Seguiremos por esta avenida, que muda de nome para Route Labarthe e depois Av. du Commingues, até virar à esquerda para Route du Plantaurel.



— Ela também mudará de nome, para Route de Lezat, e seguiremos por ela até pegar à esquerda para Route de Foix.



— Poucos metros depois, pegamos à direita para Av. de Lacroix-Falgarde...



— Seguimos por ela até entrarmos à direita aqui. Esta ponte é bem menor e menos movimentada do que a logo acima, e é por isso que vamos utilizá-la: Fica praticamente esquecida.



— Seguiremos na Av. des Pyrénnées, que é se torna Route de Lacroix-Falgarde depois de um tempo.



— Daqui, tudo o que precisamos é seguir sempre em frente. Esta rota se torna uma estrada marginal ao Rio Garona, chamada Chemin des Étroits, que dá acesso a diversas casas de veraneio de mortais ricos. É pouquíssimo movimentada e extremamente arborizada, sem contar que é praticamente uma linha reta. Aqui é possível desenvolver alta velocidade, até que, como num passe de mágica, as árvores somem e nos encontramos em frente à Pont d'Empalot. Passaremos por baixo dela, e a esta hora, deve estar chovendo muito para que seja difícil nos alvejar daqui. Cairemos na Av. Lattre de Tassigny.



— Uma curva para a direita e estamos na Allé Henri Sellier, entre o Centre Biologie Médicale e a Maison des Jeunes et de la Culture Empalot, onde soltaremos os Cabeças-de-pá.



— Só precisaríamos de dois caminhões-baú para levá-los até lá. E de pelo menos dois bons motoristas, claro. Mas eu sugiro que o grosso de nossas tropas estejam ali. Isto porque vamos iniciar nosso ataque por aqui: Causaremos duas explosões nestes prédios, fazendo com que os calouros corram em frenesi na direção contrária.



— E depois, mais uma neste prédio, fazendo com que eles subam. Aqui, senhores, é o centro de Toulouse.



— Teremos uma área livre para percorrer até a estação Empalot, a 420m, onde a tropa principal poderia se reunir com quem já estivesse infiltrado dentro da cidade, se necessário.



— Minamos a capacidade do inimigo de utilizar as tropas do outro lado do rio inutilizando a Pont du Garigliano...



— ...a Pont Saint-Michel...



— ... e a Pont Neuf.



— Com o caos instalado nesta região, seguiremos para o Capitole...



— Aqui, no coração de Toulouse, devemos encontrar o que sobrar de nossos Cabeças de Pá, dos animais que convoquei e também do grupo que tiver emboscado os militares ao norte.



— Se, mesmo com as informações que conseguirei hoje e durante os ataques, não conseguir localizar nenhum carniçal de Callistrate para alimentar Hidalgo, este será o lugar. Um pátio aberto onde as gárgulas provavelmente tentarão nos atacar, e serão recebidas com força total. Derrubar este prédio causará um dos maiores ferimentos que Villon já sofreu em seu ego.



— A partir daqui, Hector, Joaquín e Javier estão livres para se banquetear em sangue antigo, enquanto eu, Durkhein e Hidalgo buscamos Callistrate. — Gabriel olha para os rostos de cada um dos presentes, e conclui. — Este é o esqueleto. Com as informações que Desmarais me passar hoje, saberemos onde esperar resistência inimiga. Agora, meu Ductus, gostaria de lhe pedir, mais uma vez, que consiga relacionar, juntamente com Hector e Joaquín, nossos recursos atuais, para que um cronograma possa ser corretamente elaborado.

Igor, fica extasiado com a capacidade tático-militar de Gabriel, ele então olha para Hector e Joaquín — Agora que temos um bom começo, vamos relacionar nossos recurso, para que assim nos possamos maximizar nossa efeciência. Os mais importantes: Transporte e Explosivos. Algum dos senhores possui algo que possa nos servir? Do contrário nos podemos consegui-los facilmente na base militar mais próxima.

— Temos um punhado de AKs, alguns RPGs e umas .50 — diz Joaquín — em termos de transporte, temos jipes e alguns carros esporte.

— Na verdade — diz Hector — temos mais do que isso...

Hector não parece estar fazendo suspense de propósito. Na verdade, parece estar perdido em pensamentos, como se analisasse o mapa e o plano de Gabriel.

— Hector! Prossiga: ... — Igor vira-se para Joaquin — Nós vamos precisar de um transporte adequado para os cabeças de pá, algum tipo de caminhão que possa comporta-los e leva-los em segurança até o ponto de desova — Igor vira-se para Gabriel — Gabriel, qual a probabilidade de nós sermos alvejados, ou, emboscados pelo inimigo se seguirmos pela rota secundária ?

— Até Chemin des Étroits, é nula. A não ser que os reforços de Marselha a vigiem. Neste caso, seria pouco provável. Depois disso, temos Pont d'Empalot, onde acredito que haverá uma resistência, mas não a mais poderosa, já que as forças estariam concentradas nos extremos da cidade, evitando nossa entrada. Isso, claro, supondo que estão esperando o ataque para aquela noite. Caso estejam apenas patrulhando, poderíamos encontrar pequenos grupos em qualquer parte. Esta seria a melhor tática. — Gabriel reforça a informação. — Resumindo: Se souberem que vamos atacá-los naquela noite, vão se concentrar nas entradas e no caminho principal e deixar alguns pra trás, no apoio; Se não souberem, vão deixar grupos espalhados rondando a cidade inteira e as adjacentes à procura de espiões, como estão fazendo agora, e um apoiará o outro caso um confronto se inicie. Pra ser franco, podem ter batedores aqui em Muret esta manhã. Este é meu palpite, senhor. Dependo das informações de Damien para um mapeamento mais correto. Não podemos nos esquecer que Wright deve preparar o melhor que puder com o contingente que possui. O homem é um Strategos, não deve ser subestimado, mesmo...

Gabriel faz uma pausa, meio desconfortável, e continua.

— ... mesmo que tenha feito a cagada de colocar os mortais para correrem apavorados em nossa direção. — Coça a cabeça. — Ou o cara é um gênio e fez uma manobra que eu não sou capaz de compreender exatamente, ou tinha bebido sangue drogado, sei lá.

Igor absorver as informações de Gabriel, mas, ainda não o responde. Ele espera a conclusão de Hector.

— A rota por outra cidade, somada às arvores de Chemin des Étroits nos garante que não sejamos localizados à distância... a não ser que estejam patrulhando Chemin des Étroits, exatamente. Neste caso, sim, seremos um belo alvo, Joaquín. — Gabriel aponta o dedo para Hector, não de forma ofensiva ou indicatória, mas relaxadamente, para reforçar o fato de que agora se diriga a ele. — Estes "carniçais de guerra", irmão. São o que eu estou pensando? Está falando sobre os tais vozds?

Igor arregala os olhos ao escutar o nome "Vozds" — Bem, se esse sacerdote for capaz de tal criação ele tem o dever de faze-lo! Um Vozd é extremamente poderosos, dizem que o problema é ter "massa" para cria-los. Gabriel, temos que fazer o máximo para retirar as atenções de nossa rota. Será que os Nosferatu de Tolouse e sua extensa rede de informações, não seriam capazes de forjar certas especulações e informações?

— É o que eu espero, meu senhor. Vou tratar dessas informações com Damien, ou pensar em alguma estratégia para desviar as atenções para La Pyrénéenne, caso seja necessário. Mas, se me permite a sugestão, vamos ouvir Hector.