Scene 0012: Cappie, Vincent e Desmarais

O ventrue permanece conversando amenidades com Desmarais, enquanto o toreador não chegava. Isso era algo que lhe incomodava. Se qualquer um dos dois quisesse lhe trair, ou se ambos quisessem-no destruído agora seria mais fácil. Embora, ao ter descido aos esgotos, já tivesse assinado uma carta de confiança em relação aos nosferatu. Pelo menos enquanto houvesse algo com o qual eles pudessem lucrar, estava seguro. E Cappie podia pagar. Não só com dinheiro, mas ele possuia algumas informações também.

- Boa noite senhor Vicent. Vejo que ambos tivemos a mesma ideia. - a visão era realmente grotesca. O empoado ventrue absolutamente fétido e sujo, com o corpo coberto por merda e excrementos dos mais diversos tipos. E ainda mais inusitada por ele estar se dirigindo a um toreador, que estava tão "bem vestido" quanto ele.

Diante da visão meio que grotesca, o Toreador pensa em franzir a testa e fazer cara de nojo, contudo, a política naquele momento era a sua mais forte arma e não poderia se dar ao luxo de perder um acordo ou influência por pequenices de etiqueta.

- Boa noite, caro amigo Ventrue. É um prazer e um honra ver que tão importante membro da família também desobedece as ordens de seu suzerano, para tentar manobras de salvamento da vida Camarillena nesta cidade.

- Sabemos que nosso príncipe está com a cabeça cheia de problemas e que não conseguimos dar-lhe nenhuma solução que o satisfizesse. Desta forma, acho que repousa sobre nós o fardo de nos organizar tentar encontrar uma solução para o problema iminente.

*Aponta o caminho o Toreador e logo diz:*

- Vamos ao encontro de nosso amigo Nosferatu. Temos muito para conversar antes de o sol nascer mais uma vez.

— Estou bem aqui, Vincent — diz Desmarais — vejo que teus olhos ainda não se acostumaram com a penumbra das galerias.

- O prazer é meu, Vincent, embora eu esteja graciosamente supreso com sua presença aqui. - o ventrue sorria como se realmente aquela situação não o incomodasse. A podridão que exalava de seu corpo, o ar imundo que encobria o trio de vampiros. Tudo isso passava longe do que ele queria para sua vida, mas ainda assim era seu senso de sobrevivência. Na guerra valia tudo.

- Ao mesmo tempo eu não usaria a palavra desobedecer, pelo menos não no meu caso. Cheguei aos esgotos sem sair de meu refúgio, o que tecnicamente prova que não estive em terreno aberto em momento algum. Agora, quanto a nos organizar e encontrar uma forma de nos livrarmos dos nossos inimigos... estava conversando sobre isso nesse exato instante, com monsier Desmarais. - ele respondeu indicando o nosferatu, embora o mesmo tivesse acabado de se mostrar ao toreador.

— Sim, temos feito nossas considerações — diz Desmarais — Como disse a M Wright, o único espião em Toulouse já não se encontra nos limites da cidade.

- Eu gostaria de ouvir o que o senhor Vincent tem preparado para defendermos a cidade do ataque ao sabbat, já que ele não se pronunciou quando o Conselho de Anciões se reuniu com o príncipe.

— Deveras — diz Desmarais — eu também estou curioso para ouvir sua opinião, Vincent.

O toreador ouve aquela primeira rodada de questionamentos e apontamentos e diz:

- A única forma que vejo, objetivamente, de vencermos é nos mantermos em preceitos de unidade de ação e luta. Parece óbvio este pensamento, mas é fundamental para a vitória. O que o Sabá historicamente tem mais que nós é esta tal unidade em momentos de conflito. Na guerra, a Seita vem acima de tudo! Do lado de lá há menos desertores e traidores, o que mostra que aqui, na Camarilla, nem sempre isso acontece. Muitas de nossas batalhas perdemos por deslizes e não sabermos de fato com quem contar. O nosso mundo, mais "civilizado" e "político" do que o das bestas apocalípticas faz com que as nossas intrigas se mostrem nos momentos mais escrotos ... e que o revanchismo cause verdadeiras tragédias.

- Assim, meu companheiros, espero que possa contar, primeiro de tudo, com a fidelidade de todos os clãs da cidade. Isto parece clichê, mas é algo que creio ser de fundamental importância para a manutenção de nossas não vidas, a ponto que tenho a propor algo que possa ser considerado diabólico, anacrônico, bestial, mas que pode gerar esse sentimento de uma forma ou outra.... Proponho que reunamos os primógenos e que todos façamos o ritual da taça e garantamos nossa fidelidade uns aos outros através do sangue. Caso pareça anacrônica esta hipótese, creio que um contrato de sangue selado por nossa capela Tremere possa garantir nossa unidade ... se não por vontade, que seja misticamente ....

- Vejam, na guerra os mais variados pensamentos consomem uma cabeça centenária e bestial como a dos vampiros. Ainda que civilizados, somos predadores e sobreviventes por natureza; qualquer um de nós pode estar sujeito a se voltar contra os outros caso o medo e o peso da morte final se aproxime. Por isso, mais que companheiros - aqueles que dividem o pão- devemos ser camaradas - aqueles que confiam a retaguarda uns aos outros no fronte de batalha-. Devemos confiar incondicionalmente um nos outros, pelo menos até o cessar da guerra.

- Garantida esta etapa, o resto fica mais fácil. Desde criarmos eventos de gangues e movimentos anti-governamentais que possam atrair a atenção das forças nacionais e, desta forma, termos um exército gigantesco a nosso favor, a trazermos atrações que façam milhares de pessoas virem à cidade e possamos usar dos meios de manipulação em massa para atacarmos o inimigo. Volto a frisar, primeiro temos que selar a unidade entre nós, o resto é detalhe.

As palavras do toreador eram contundentes, mas todos ali sabiam que na história os Traidores sempre jogaram papel fundamental na decisão das batalhas. O tom não era acusador, era mais preventivo do que, de fato, acusatório.

- Como eu disse, caro amigo, medidas extremas são necessárias em situações extremas. Você está falando de flagrantes quebras da máscara, de usar os caçadores que querem nossas cabeças quando não são influenciados por nós. Esta ideia eu já apresentei a nossa alteza, de criarmos um furor sobrenatural de forma a trazermos outros caçadores à cidade. Contudo, isso implica em termos nossa cabeça a prêmio também. Para mim, apenas a nossa lealdade e unidade de ação e luta são os vetores capazes de nos conduzir à vitória.

- Parece uma sandice, meu mentor poderia até querer me destruir, mas quando falo hoje, não sou Vincent, e sim, o primógeno Toreador. Penso nos vampiros desta cidade e no meu clã, mais do que nas tradições, usos e costumes, que nós defendemos em momentos de paz. A guerra, como senhora de tudo, exige a sobrevivência, eu estou disposto a fazer o que for necessário para garantir a nossa sobrevivência, enquanto vampiros, clãs e seita. E vocês, meus amigos?

O toreador realmente tinha a vontade de um colosso correndo por suas veias. Ele lutaria até as últimas consequências pela manutenção do poder da Camarilla e as vidas vampíricas daquela cidade.

— Os nosferatu jamais irão se submeter aos tremere novamente — afirma Desmarais de forma a não deixar dúvida alguma.

"Novamente? Pensa Vincent....."

- Enfim, senhores, a única coisa que eu propus foi o fortalecimento de nossos laços de uma maneira sobrenatural. Se não há consenso em relação ao uso das práticas, me submeto à vontade do colegiado. E espero opiniões para como conter o levante sabá! Eu, realmente, não tenho muito mais ideias a externar.

- Me parece tudo muito simples para dar certo. Contudo, como não tenho ideias melhores, acho plausível aceitar de bom grado este plano por enquanto e vermos o que dará certo ou não nas primeiras 24 horas.

- Boa noite senhores!

Desmarais e Cappie se despedem de Vincent e os dois cainitas deixam o nosferatu a sós com os ratos e outras criaturas nojentas do seu lar.

Vincent segue direto para o seu refúgio, ele precisava tirar aquele cheiro de suas vestes.....