Peter Adler

A escuridão parece entrar pelos poros de sua pele. Enrodilha-se em seu pescoço, em seus membros e parece querer aliciar cada um de seus orifícios.

De súbito, as pernas são puxadas para trás e ele cai no chão um pouco mais lentamente do que aconteceria fora da nuvem de treva. Peter sente seu corpo sendo arrastado para trás, como se a Escuridão tivesse expulsando-o da ponte.

*Peter leva as mãos a cabeça, tentando se desvincilhar do que irrita seus orificios, mas não resiste ao que esta lhe expulsando da ponte.*

Peter sente seu corpo pender livre no espaço e suas mãos se agarram instintivamente a mureta da ponte. Nesse momento ele percebe que a força que o expulsa não quer levá-lo para o espaço claro, mas lançá-lo ao abismo.

"Esse é meu sonho. Eu posso fazer o que eu quiser."

*Peter tenta um esforço mental igual ao que faz quando tem pesadelos, mas logo percebe que não funcionou e ele não tem a força que quiser, o que significa que tudo é realidade. Nesse momento o medo da lugar ao desespero. Sem se soltar de onde se agarra ele berra.*

- Socorro!!!

Quando tudo parece perdido, uma mão o puxa de volta para a ponte.

*Peter depois de ser puxado tem a ação reflexiva de se segurar no que lhe puxa.*

Parece um braço. Não há tempo, nem disposição para maiores conjecturas a respeito, mas parece um braço de mulher.

A mulher, se é realmente uma mulher, tem uma força descomunal, pois consegue puxar Peter de volta para a ponte, a despeito dos tentáculos de escuridão que se agarram firmemente às suas pernas.

*Peter bate as pernas tentando fazer os tentáculos lhe soltarem, ao mesmo tempo que se mantêm agarrado na "mulher". Suas atitudes são involuntárias e não racionais.*

Assim que consegue puxar o corpo do nosferatu para a ponte, a "mulher" o coloca sobre os ombros e começa a carregá-lo silenciosamente.

*Peter tenta regir no começo, mas devido a força da "mulher" ele acaba desistindo.*

Assim que vão para a luz, Peter consegue ver a mulher que o resgatou das trevas. Ela tem o corpo definido de uma atleta, usa roupas de aparência militar que não atrapalham seus movimentos, seus olhos se movem de um ponto a outro antes de se fixarem nele, como se estivesse estudando o ambiente.

* Peter senta, tentanto relaxar e recuperar as forças. Acompanhar o olhar da mulher a sua frente é instintivo e Peter também olha paara os cantos, como se algo ainda estivesse atras deles. Por fim se ve obrigado a conversar com sua salvadora.*

- Obrigado. Mas quem é você?

— Eu sou Kate — diz a mulher — e você deve ser Adler.

- Adler......

O nosferatu parece bastante confuso com tudo que ocorrera naquela noite, a quantia de informações novas em tão pequena fração de tempo parecem estar abalando a sanidade mental da criança da noite. Apesar da reação natural ser a de indagar o que acabara de acontecer, Peter parece não ter mais força para tentar entender tanta coisa. Ele apenas concorda.

- Adler......... Sim, sou eu. Peter Adler.

— Djall me mandou — diz Kate — ele me disse para protegê-lo, mas você não facilitou em nada meu trabalho. Este não é um lugar seguro. Precisamos atravessar a ponte novamente.

Peter fixa seu olhar na mulher a sua frente pela primeira vez, como se tivesse acordado. Seu esforço parecia ter sido em vão. Ele parecia menos estupida que o "Lorde" e mais forte.

- O que ele quer comigo?

Peter acompanha a mulher de corpo atlético, desta vez sem discutir como fez com Eric. Ao se aproximar do refugio de Djall começa a imaginar o que lhe esperava. Apesar de ter planejado o que dizer a ele não esperava uma criatura tão estranha, e as palavras antes ensaiadas agora não saia de sua boca.

- Ahh..... A honra é minha de conhecer tão honrada pessoa.

O nosferatu acorda como se tudo não houvesse passado de um pesadelo. O afresco no teto remete Peter a seus tempos de artista, ou em que almejava a arte. Aquilo lembrava os tetos de igrejas pintadas no século XVII, excetuando-se pelo o que estava retratado. Não era difícil para ele distinguir o estilo da obra, a qual fica por alguns minutos admirando sem retirar a cabeça do travesseiro. Então Peter se espreguiça, roçando o rosto em seu travesseiro deixando uma marca no mesmo de sangue e saliva saídos de sua boca sem gengivas. É o suficiente para ele voltar a realidade.

Peter senta apressado na cama, quando se da conta de tudo que havia passado na noite passada. O som de bombas não chegavam ali, e a sensação de medo parecia que também não. Ele se levanta e da uma longa examinada a sua volta, tentando imaginar onde estava. Provavelmente haviam o levado ali depois que ele dormiu, mas como não vira nada?

Ele passa o olho pela estante de livros e se fixa nas estátuas que de certa forma lembram a arte de Benini, por um momento iria devanear em pensamentos, mas o instinto falou mais alto e ele abre a porta a direita da cama, atras de mais respostas.

Peter abre a porta e se vê em um longo corredor ricamente adornado. Arcos belíssimos cruzam o teto a cada cinco metros e quadros dos mais variados estilos enfeitam as paredes.

Ao final desse corredor, um par de portas ainda mais impressionantes do que as primeiras esperam para serem abertas.

Peter não parece interessado em sair por ai a esmo. Ele volta para dentro do quarto e procura algo que possa ser usado para chamar alguém, como uma sineta. Não encontrando ele abre todas as quatro portas a procura de alguma que não leve apenas a corredores. Caso todas dêem o mesmo resultado da primeira ele sairá abrindo as portas do corredores todos, como se estivesse descascando uma cebola, ou seja, em camadas, mas nesse momento a sensação de medo estará lhe voltando ao corpo.

A porta a esquerda da cama dá em um cômodo um pouco menor do que o quarto onde ele acordou e suas paredes estão tomadas por cabideiros com os mais divertos tipos de roupas.

Peter bate a porta do closet irritado e vai para a porta da frente.

- Droga, onde eu me enfiei.

Peter assiste a cena bastante atordoado. No momento em que o fantasma atravessa seu corpo ele começa a tremer como vara verde. O mundo sobrenatural ainda era uma novidade.

Quando todos desaparecem Peter ainda esta com a perna tremendo, tentando remoer a situação. Após a afirmativa da mulher de capa roxa ele se engasga antes de falar.

- Ahhh.... ohhhhh... Quem é você? E onde eu estou?

Peter se fixa no olhar a ponto de não entender parte do diálogo. Depois ele tenta evitar o olhar fascinante e se concentrar nas perguntas.

- Djall não deveria estar por aqui, Bianca? Imaginava que ele quisesse falar comigo.

Peter tentou evitar a fascinação que Bianca exercia sobre ele, mas parecia impossível, e porque não dizer desnecessário? Afinal sua vida havia só sido feita de desgraças nos últimos anos, estar na presença daquela mulher era reconfortante. Djall não parecia mais importar naquele momento, Peter procura alguma coisa com que possa continuar a conversa ao lado dela. Ele da mais dois passos em direção a Bianca, tentando ficar mais próximo daquela deusa e então procura algo para continuar a conversa.

- Você sabe o que ele deseja comigo?

Tamanha é a admiração que o jovem nosferatu não ousaria hesitar em momento algum em responder as perguntas feitas pela sua interlocutora, mas ele hesitava. Não que ele tentasse esconder algo, até porque dificilmente conseguiria se esconder daquele olhar inquiridor, mas a verdade é que ele não sabia por onde começar a resposta. Aquela pergunta não era feita por ele, parecia totalmente envolto em seus desejos imediatistas que não tinha tempo para pensar nessas futilidades. O seu rosto expressa essa duvida, que seria óbvia até a menos empática das pessoas.

Peter começa a rever sua curta vida em retrospectiva e a última noite parece ocupar um espaço enorme nela e lhe traz o desejo por esquecer tudo aquilo, um desejo de fugir do mundo. Depois volta ao seu cativeiro, e a imagem daquele ser lhe tratando com sangue. O sentimento que lhe aflora é o ódio, raiva daquele que havia destruído sua vida, o que lhe dava esperança de estar no local certo ao estar nos domínios do maior rival de Callegari.

Por fim ele lembra de sua vida antiga, que de brilhante não tinha nada. Lembra da frustação de não ter sua arte reconhecida e da vida medíocre que levava como fotógrafo jornalístico para tablóides sensacionalistas. Não era nada promissor mas parecia o paraíso quando comparada ao inferno em que se encontrava. Peter não sabia o que poderia passar pela mente daquele ser a sua frente, mas o desejo de sua antiga vida não lhe parecia algo "passageiro".

Ele se sente um fútil perante aquela mulher a sua frente. Por várias vezes ele tenta abrir a boca para falar mas as palavras não saem. Simplesmente não havia o que sair dali. Talvez ficar quieto fosse mais do que suficiente para aquela que parecia ler os seus pensamentos.

Peter fica olhando para Bianca com uma cara de cachorro pidão, só faltava ela arremessar o osso.


OFF: desculpa a demora, tive uns imprevistos.

A fascinação, quase beirando a paixão, passa em um segundo. Ver aquela beleza encantadora se transformando num pedaço de carne meio humano faz Peter levar a mão ao rosto e fazer um esforço para não vomitar.

- Que merda é essa?

Apesar da sensação de nojo existir ela é bastante aumentada, na esperança de esconder a vergonha que sentia por ter sido enganado daquela forma.

— Isso é para o seu aprendizado, Sr Adler — diz o verme — Nem tudo é o que parece.