Dante (dos Corvini)

— Muito bem, Dante — diz Vergílio, com o mesmo tom monótono de sempre — O que tem a relatar?

— Bem... digamos que as coisas não foram como eu planejei — Dante responde com um certo tom de desdém.

— Entendo — diz Vergílio, fazendo algo que poderia ser interpretado como uma pausa dramática, não fosse pelo fato de que o Corvini, seguindo a tradição de sua linhagem, não é dado a dramaticidade — e o que esperava?

— Esperava poder ao mínimo fazer um acordo justo com eles, sem que nenhuma das partes fosse prejudicada — responde Dante — Mas parece que eles querem tirar vantagem de nós, pediram reféns.

Vergílio fica estático por um momento e, embora o mesmo ar gélido e impessoal esteja impresso em suas feições, Dante percebe que algo no que acaba de dizer foi tão inesperado que o ancião quase sorriu a despeito de si mesmo, conseguindo por fim se conter.

— Você esperava “justiça” da parte dos lupinos?

— Esperava que o bom senso e a situação crítica para eles falasse mais alto...

— “Bom senso”... — diz Vergílio e parece estudar o termo, buscando na memória o seu significado.

— No entanto, eu notei que eles são extremamente prepotentes, sei que isso é óbvio quando o assunto é cabeças rolando, mas políticamente também

— Está melhor — diz Vergílio, sempre falando com o tom de um professor — não espere nada do inimigo, sempre lhe estude. Você supôs que encontraria na comunidade dos lupinos uma série de coisas que acabaram por se revelar um engodo de sua própria imaginação. Agora você os está analisando de fato. Entretanto, eu me pergunto, quanto de imaginação existe nessa sua nova conclusão?

— Eu tirei essa conclusão dos atos deles, eles tentaram me impressionar com informações básicas sobre nós, como saber o que é um Ancilla, ou diferenciar um Lasombra de um Ventrue

Vergílio não responde de imediato.

Dante sabe que precisa esperar ele pensar, pois seu mentor não é o tipo de pessoa que desperdiça seu fôlego com palavras sem sentido. Ele estuda, ele analisa e só depois abre a boca para falar.

— Talvez eles só quisessem mostrar o quanto sabem de nós para que você não os tome por ignorantes — diz, por fim, acrescentando a seguir — mas por que eles se interessariam em nos conhecer a tal ponto? E, mais importante, quais cartas eles ainda não mostraram?

— Creio que por estar enfrentando um vampiro eles devem ter pesquisado sobre nossa espécie, mas a menos que eles tenham alguma ligação com um membro maior da Camarilla ou Sabá, eu acho que eles não tem informações proporcionalmente mais perigosas do que essa.

— O seu erro é completar com imaginação o que você não tem de informação — diz Vergílio em tom de censura.

Dante fica envergonhado como um filho fica quando é censurado pelo pai.

— Meus perdões.

— Vamos do princípio — diz Vergílio — o que sabemos sobre os lupinos londrinos?

— Eu... não tenho mais informações que essas, fora as que o senhor me deu. Sobre a mãe natureza ou coisa do gênero.

— Muito bem, Dante — diz Vergílio — Admitir ignorância é melhor do que arrogar-se de um conhecimento suposto. Agora, diga-me de novo suas impressões sobre o encontro, mas desta vez, pense nelas antes de declará-las.

— Muito bem, as informações que eu pude coletar são que eles nos consideram filho da "Wyrm" seja lá o que isso for, não sei se ele generalizava toda nossa espécie ou apenas nosso clã, visto que ele também sabiam que eu era um Lasombra, e que era "Antitribu". Eles são cheios de si, e tem uma informação básica sobre a Camarilla e sua organização, pelo menos é básica até onde eles mostraram saber.

— Eles são, de fato, “cheios de si” ou aparentar serem arrogantes? — pergunta Vergílio enquanto lhe fulmina com o olhar.

— Foi uma conclusão que eu tive. — responde Dante com humildade. — Quando eu disse que Mithras certamente não seria uma ameaça se juntassemos nossas forças, eles agiram com arrogância,

Vergílio pensa por um momento, analisa, estuda... depois fala:

— Supondo que eles sejam, de fato, arrogantes. Surge daí a pergunta: “Eles têm motivos para isso?”

— Um possível motivo seria para me intimidar e aceitar o acordo deles, não estou concluindo que seja isso, mas até agora é a única resposta que eu consigo pensar

— Se eles são arrogantes, como você parece estar convencido, então são também egocêntricos. Portanto, pensam mais em seus próprios interesses em detrimento do “resto”. Sendo esse um pensamento correto, também é correto pensar que eles não iriam agir de uma determinada forma somente para lhe intimidar. Quem se arroga de um privilégio não o usa em prol de outrem. Tanto não usa para favorecer, quanto não usa para desfavorecer.

— Sendo assim, se essa conclusão minha for um fato, eles não teriam motivos para isso

— O que você pensa ser verdadeiro?

— O que eu acho é eles querem esses reféns para depois do trato feito, nos trair. Não que eu possa provar isso, mas porque confiar nos "filhos da wyrm"? seria bom matar dois coelhos com uma cajadada só.

— "Dois coelhos com uma só cajadada" — diz Vergílio — é um pensamento a curto prazo.

— E porque nessa situação seria algo ruim?

— Porque é mesquinho. A destruição de Mithras é uma grande jogada, mas os ancillae são menos do que nada perto dos anciões de Londres. Se eles quisessem "matar dois coelhos com uma só cajadada" é melhor se concentrar na primigênie londrina e não em meros ancillae.

— O senhor está dizendo que seria sábio então não fazer o que os lobos pediram? nem tentar enganá-los?

— Estou dizendo — diz Vergílio — que eles tem muito a ganhar com nossa ajuda e muito pouco destruindo os ancillae e, de qualquer forma, são só Ventrue.

— Entendo...

— E como poderíamos enganar os pompozos para essa armadilha? quer dizer, nós não estaríamos nos expondo demais?

— Eles procuraram os secretários das sombras, lembra-se? — pergunta Vergílio, um tanto irritado — Nós só vamos lhes dizer a contra-proposta dos lupinos.

— Entendo... bom, então eu devo ir avisar ao membro que me contratou e mandar a mensagem para os Ventrue

A mensagem é enviada e os anciões londrinos concordam com os termos dos lupinos. O planejamento do ataque leva anos e, pelas negociações, os Corvini descobrem a identidade de todos os conspiradores. Depois que Mithras é destruído, os lupinos honram sua parte do acordo e devolvem os ancillae.