Mary York - LGP

PREVIOUSLY ON LGP:

Quando a porta se abre, Mary percebe, imediatamente, a beleza da rival. Não era algo com que ela possa realmente competir, mas ainda assim, ela é a esposa enquanto a outra é somente uma vadia qualquer.

— Olá, Mary — diz a moça — por favor, entre. Imaginei que a veria hoje.

*Observa o ambiente e se a amante trancou a porta. Sabe que qualquer barulho fará com que o cocheiro invada a taverna*
.
*Sente uma ponta de humilhação pela beleza de sua rival, mas imagina se o marido já não tinha tido tantas outras, e se essa não era só mais uma*
.
*Começa a caminhar pelo aposento lentamente, temendo por sua segurança naquele ambiente decadente, mas disposta a tudo pra salvar sua honra*
.
--Então, Bianca, correto? É este mesmo seu nome ou é apenas um disfarce pra não desonrar sua família e a Deus usando o nome que recebestes na pia batismal nesse tipo de vida decadente e ímpia? Vou direto ao ponto...Onde está Joseph e o que você quer pra sair da cidade e nunca mais ver meu marido?
.
*Procura manter um ar superior e um tom firme na voz*

— Na minha terra uma pessoa que faz uma pergunta deve arcar com as consequências da resposta. E já que está tão disposta a ir direto ao ponto, vamos começar. O nome com que me agraciou o padre, antes que me deflorasse lá perto da pia batismal já não faz sentido usar. Prefiro Bianca, que é como meus clientes me chamavam em minha terra. Significa Branca e, como você pode ver, sou de fato muito clara. Se vivo uma "vida decadente e ímpia", não convém a uma senhora respeitável como você saber. Sei de histórias que lhe arrepiariam os pelinhos que, pelo que seu marido me confidencia, há muito não conhecem o toque de um membro viril. Joseph está, como já deve ter lhe dito de antemão, reunido com o Conselho da cidade. Algumas noites ele vem me visitar, para que eu faça com ele o que seu pudor não a permite. E quanto ao preço que eu cobraria para sair de uma cidade cheia de clientes importantes não é algo que uma camponesa como você possa me pagar. E, além disso, seria inútil. Existem outras profissionais como eu no mercado e ele simplesmente me trocaria por outra. Suponho que você não pretenda subornar todas as profissionais da cidade. É mais prático que eu lhe ensine como manter seu marido debaixo das tuas cobertas do que tentar mantê-lo longe das minhas. E isso, de qualquer maneira, não lhe sairá de graça. Como o bom padre que me fodeu durante toda a minha infância soube quando o deixei. Tudo nesse mundo tem um preço.

*A cada citação blasfema contra a Igreja, imoral sexualmente e ofensiva contra sua situação sublime e sagrada de mulher casada, que saia dos lábios da messalina, a respiração de Mary se tornava mais ofegante, seu coração batia forte como o ribombar de um trovão, e o sangue lhe subia pelas fauces até que ficasse rubra, quase roxa*
.
*Ainda ficava se perguntando o significado da palavra "fodeu", que nunca havia sido ensinada a ela*
.
*Pensou que tinha dinheiro o bastante pelo menos para impedir que a depravada se comprometesse a se encontrar com seu marido, mesmo que permanecesse na cidade, mas que seria inútil tentar explicar isso a uma pessoa tão obtusa que teve de ganhar a vida num ofício sujo e inferior como aquele*
.
*O modo debochado e humilhante com que aquele ser torpe se referia abertamente ao adultério de seu marido, acabou com todo o pavio de civilidade que lhe restava, e então, gritando e urrando como uma cabra dando a luz, ela corre pra cima da dissoluta e lhe arranhou com força o rosto, tentando jogá-la no chão e lhe esbofetear até perder as forças*

Mary arranha e bate na mulher que está caída no chão com ferocidade e, por mais que a mulher tente se defender, ela acaba sendo surrada. O ódio de Mary a cega para tudo, até que ela percebe que sua vítima, com o rosto desfigurado, já não reage mais. Na verdade, ela parece não estar mais respirando.

*Assustada com a possibilidade de ter matado outro ser humano, por mais sujo e perverso que este seja, ela testa o pulso e tenta sentir com as costas dos dedos se ainda sai ar do nariz da dissoluta*

— Então, você ainda possui misericórdia — a voz da mulher diz, despida de um corpo, flutuando em algum lugar atrás de Mary.

*Se vira assustada tentando entender de onde veio a voz*

Não há ninguém no quarto a não ser ela própria e essa constatação a deixa ainda mais assustada.

De repente, já não lhe interessa se a prostituta está viva ou morta, ela só quer deixar aquela alcova de pecado o quanto antes.

*Sai correndo e gritando em direção à carruagem com medo de ter matado uma bruxa e agora ser assombrada*

Mary grita com todo fôlego, mas quando se prepara para correr, uma aparição bestial surge entre ela e a porta. O diabo veio em pessoa buscar sua alma ou, pelo menos, é nisso que Mary acredita. O rosto contorcido pela maldade, mais parecendo a cara de um bicho do que uma face humana, as garras negras dos dedos das mãos, caninos alongados e várias características tais como essas a levam a única conclusão lógica.

— Grite o quanto quiser — a fera diz com a voz da bruxa que a invocou — ninguém vai prestar atenção. Não neste bairro. Seu servo, se for inteligente, já fugiu há muito tempo e, caso contrário, já terá sido assassinado.

A fera abaixa-se para olhar a bruxa morta mais de perto.

— Veja o que você fez — a fera meneia a cabeça, em sinal de desconsolo — agora você terá que ocupar o lugar dela.