Pietro Giovanni

PREVIOUSLY ON LGP:

Os homens de Teodoro demonstram níveis diferentes de medo e até ironia diante do comentário de Pietro. É óbvio para o Giovanni que Don Putanesca os controla através do terror e que eles fariam de tudo para fugirem de seu jugo.

— Vou lhe mostrar como os Putanesca tratam vermes como você — diz Teodoro a Pietro e, em seguida, ordena a seus homens — prendam-no no porão. Vou torturá-lo, esquartejá-lo e jogarei seus restos aos Giovanni.

— Os Putanesca podem flagelar a carne, mas o espírito se mantém intocado — Pietro diz para Teodoro Putanesca, mas olha para seus homens. — De modo que, quando cessam os tormentos da corpo, o espírito está livre para partir para além do sudário. O verdadeiro suplício do homem é encontrar alguém que possa torturar não só o corpo, mas também a alma. Acho que todos conhecemos os boatos acerca de minha famiglia, não é mesmo?

Até mesmo Teodoro empalidece diante dessa ameaça, embora se esforce visivelmente para manter a pose. Alguns campieri estão a beira do pânico, enquanto os mais fortes, parecem considerar as palavras de Pietro com muita atenção.

— Tirem esse verme da minha frente — diz Teodoro — preparem-no para a tortura.

Os homens agarram os braços de Pietro e o retiram da presença do capo conforme as ordens que receberam.

— Vocês têm medo da morte? — Pietro pergunta para os Putanesca que o estão levando para o matadouro.

— Todos têm medo da morte — diz um dos campieri — Você deveria ter também, já que está muito mais próximo dela do que nós.

— A morte me acompanha desde o nascimento — diz Pietro — Estou acostumado a companhia dos mortos.

Ele dá uma pequena pausa para que suas palavras sejam assimiladas.

— Este lugar para onde estão me levando está cheio de mortos inquietos. Eles anseiam pelo sangue dos Putanesca, mas não conseguiam prová-lo. Agora porém, vocês trouxeram um Giovanni para sua casa e seus fantasmas estão ansiosos.

Todos os campieri que acompanham Pietro se entreolham assustados e para de súbito. Ninguém parece estar ansioso a cumprir a ordem de Don Putanesca e levar o Giovanni ao recinto onde os fantasmas podem, a qualquer momento, atacá-los.

— O que devemos fazer para que nos deixe em paz? — pergunta um deles.

— Não é a minha presença que os atormenta — diz Pietro — Entretanto, provavelmente sou o único que pode fazer com que os espíritos aqui ancorados partam para as Terras Além e deixem os vivos em paz. Evidente que não farei isso por altruísmo, nem mediante ameaças. Afinal, como já lhes afirmei, por maior que seja a dor que vocês venham a me inflingir em vida, ela não é nada comparada a dor que lhes inflingirei depois de morto.

— Não vou pedir nada muito difícil, fiquem traquilos quanto a isso — diz Pietro — Não quero que matem Don Putanesca, nem nada assim. Quero somente que façam a gentileza de não retaliar o ataque de que todos somos vítimas. No mundo dos mortos existe uma reação para toda ação que é feita aqui e certos atos ecoam na eternidade. Eu compreendo a necessidade de vendetta que alguns de vocês sentem, mas acreditem quando lhes afirmo que as sementes hoje semeadas hão de se transformar em espinheiros. Os invasores pagarão por seus crimes, mas não pelas suas mãos, mas pelas próprias vítimas que eles fizerem.

— Muito bem, senhor — diz o homem e depois outros também rugem sua aprovação — que assim seja.

E assim, os Putanesca não se levantam contra Afonso V que em 1442 se torna Rei das Duas Sicílias.

Ao retornar para casa, no dia 04 de Abril de 1445, no aniversário do dia em que Augustus tomou a decisão de fazer os Giovanni deixarem de ser uma Linhagem e se tornarem um Clã, Pietro Giovanni morre para o mundo e renasce através do Batismo de Sangue, tornando-se um vampiro. E, apesar de Lucretia ter lhe concedido o Beijo da Procuração, a sire que Augustus escolhe para Abraçá-lo é Patrizia.

Em 1662 os Anzianni, grandemente influenciados por Pietro Giovanni, decidem incorporar os Putanesca ao Clã Giovanni. Entretanto, há uma disputa acerca de quem será Abraçado. Por um lado há Michella, que havia recebido do próprio Pietro o Beijo de Procuração e, por outro lado, Francesco quer Abraçar Don Vitto Putanesca.

— Os Putanesca, primitivos como são, jamais irão se rebaixar a serem comandados por uma mulher — diz Francesco.

— Podemos confiar que, se fizermos da maneira como o senhor propõe, eles escapulirão por entre nossos dedos — diz Pietro — A respeito de confiança, certa vez minha sire me disse o seguinte: "A confiança é a mãe do descuido". De modo que melhor não confiarmos em ninguém, nem mesmo em nós mesmos. Ah... lembrei-me de um fortuito versículo: "Maldito é o homem que confia no homem". Foi o Profeta Geremia, eu creio, quem proclamou essa verdade. Os Putanesca não merecem nossa confiança, é claro, mas quem a merece? Se o Capadócio não tivesse confiado em nosso patriarca, ainda hoje seríamos seus escravos. A confiança, portanto, é uma serpente peçonhenta que busca a quem envenenar. Não precisamos confiar nos Putanesca para fazê-los próximos. Eu diria até que, por não confiarmos neles é que devemos tê-los por perto. E certamente eles desconfiam de nós, o que é muito apropriado. Portanto, meus anzianni, mandemos Michella não porque confiamos nos Putanesca, ou os queremos debaixo de nossas botas, mas porque desejamos que eles nos subestimem e, principalmente, que eles pensem, como os capadócios pensaram durante tanto tempo, que são nossos senhores.