Mujahid - Willian "Billy" Marston

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Sem pronunciar uma palavra sequer, o assassino "pede" sua dispensa com dois passos para trás, e só depois vira seu corpo. Fixa os olhos por um instante em Cristóbal: um cumprimento, um "até breve", um silêncio.

Sai em busca de suas armas, e também das de suas companheiras mortas. Recolhe rapidamente os equipamentos que poderia carregar, e por último, vai o local onde seu cutelo deveria estar.

O cutelo jaz encravado em um crânio ressequido e Billy entende que seu inimigo invisível fora destruído antes que ele se designasse a perseguí-lo.

De qualquer maneira ele aceitara a missão de destruir aquelas Crianças da Noite e os carniçais guerreiros e é isso o que faria.

Ao final daquela mesma noite, Marston os encontrou. Eles continuavam andando em bando e isso facilitou seu trabalho. Todos, menos um. E, ao final da segunda noite, ele ainda não o havia encontrado.

O homem de preto fugia pelo deserto, e o pistoleiro ia atrás.

Billy procura por abrigo, já não faz sentido continuar se não para que o alvorecer o surpreenda e destrua. Deixa seus pensamentos soltos, tentando se lembrar de algo que não sabe se realmente existe.

Podia se recordar de seu treinamento no Alamut, suas lições, mas não de seus professores. Em sua mente, a imagem de como saiu vitorioso do Teste Final, e foi recrutado pelo Sabá eram nebulosas, mas existiam.

Tentava entender por que Denise sempre esteve com ele, mesmo que não se lembrasse de tê-la conhecido em seus treinamentos. Por que a sede de vingança invade a mente de um homem treinado para não possuir nenhuma emoção?

Marston descança.

"I shut my eyes and turned them on my heart.
As a man calls for wine before he fights,
I asked one draught of earlier, happier sights,
Ere fitly I could hope to play my part.
Think first, fight afterwards - the soldier's art:
One taste of the old time sets all to rights."

Retira de seu bolso um velho pingente, sujo e surrado pelo deserto. Um retrato, uma pintura. Aquele não era seu passado, mas carregava como se fosse. Deveria ser importante, pelo menos.

Tentou abrí-lo, olhar por trás do retrato. Algo que o fizesse entender o sentimento de que estava fazendo algo maior, de que seus instintos o estavam levando a outro lugar além do que podia ver.

Billy fica decepcionado [embora não devesse, já que não deveria ter emoções]. Atrás do retrato só existem três estúpidos fios de cabelo enrolados. Sua primeira reação é jogá-los fora, junto com o maldito pingente. A raiva começa a se acumular em seu peito e quase se torna frenesi, mas ele a controla.

O pistoleiro fica brincando um pouco com os fios e percebe que poderiam pertencer a qualquer um dos membros daquela família, com seus cabelos loiros e olhos azuis. Ele se pergunta a razão pela qual os magi de seu clã teriam concebido aquela imagem colorida de uma família caucasiana. E com esses pensamentos na mente ele dorme.

E sonha.

Ao despertar, na última noite antes de voltar para seu bando, ele mal se recorda do que sonhara. Lembra-se de estatelar-se no cimento ao pular no vão entre dois prédios, lembra-se da incrível sensação de liberdade enquanto estava no ar, lembra-se de uma lágrima rubra sobre um brasão e lembra-se das palavras: “You'll never walk alone.” De súbito, o sangue escorre vasto por seu rosto e o choro lhe convulsiona o peito. Quando finalmente consegue se controlar ele percebe que está com Fome.

Bill Marston tenta se recompôr enquanto imagens e palavras flutuavam por trás de seus olhos.

"Eu pedi um fio de cabelo de sua cabeça dourada. Ela me deu três..."

Tolice. Estes fios podem ser de qualquer um deles, ou mesmo um de cada.

"Você jamais andará sozinho."

É mentira. Estou sozinho agora... Devo estar... Tenho que estar.

Aos poucos, o pistoleiro limpa o sangue coagulado de seu rosto... A Fome é a Besta... Ela, a Fome, não o deixa pensar com clareza. Sim, é culpa da Fome.

Talvez, aquele medalhão tenha este poder: O poder de destruir um homem pelos sentimentos. Talvez seja por isso que não pode ser largado, mas sim carregado por alguém que consiga resistir. Marston tinha de resistir.

Fome

Talvez o medalhão nada tivesse a ver com suas lágrimas. Era um feitiço! O Homem de Preto o estava enfraquecendo para conseguir fugir. Sim, um feitiço.

Marston não consegue raciocinar por completo, mas se lembra de quem é: Um Anjo de Caim. Guerreiro do Sabá. E não existe nada além disso.

Terminar a missão, é só o que preciso. Se houver algo oculto por trás destas visões, o fogo revelará!

Billy se levanta. Vai se alimentar de qualquer fonte em seu caminho, e vai encontrar e destruir o Homem de Preto.

As poucas pessoas que saíram do saloon e ganharam a rua antes de Marston subir na sacada, ao ouvir barulho de cavalos se aproximando, escondem-se nos becos entre os prédios, momentos antes que a algazarra comece.

Os cavaleiros chegam atirando com suas armas e gritando. E, a julgar pela reação dos habitantes, aquilo é comum na cidade.

Ao todo, são cinco e nenhum deles tem uma coloração que sugira que o sangue ainda corre em suas veias.

Enquanto se desloca a uma velocidade impressionante, Marston vê suas lâminas atingindo os dois primeiros alvos e supõe que as outras duas também o fizeram, porém, assim que saca o terceiro par de facas, apagam a luz do mundo e ele se vê mergulhado em trevas.

As estacas cedem às facas, mas Marston não ouve ruído de espécie alguma que lhes comprove a substância. A treva materializada não encontra paralelo com nenhuma outra estrutura e isso é perturbador, mesmo para alguém que convive com Sarkany a tanto tempo.

A julgar pela distância que ele percorreu antes que a barreira de estacas lhe interrompesse o trajeto, Marston calcula que esteja próximo a fronteira que separa o mundo natural do espaço tenebroso dentro daquilo a que Sarkany sempre se referiu como Mortalha. E sempre existe a possibilidade do invocador das trevas sentir que suas estacas foram cortadas da mesma maneira como a aranha sente as vibrações na teia.